Testemunha ocular da História
JC da Redação do Blog de Aurora e do site Cariri de Fato
Fotos: Karlos Marx
A trama para a suposta traição
J. Cícero
Fotos: Karlos Marx
Os pesquisadores do cangaço José Cícero (Aurora) e Sousa Neto (Barro) visitaram no último domingo (15) o senhor Elias Saraiva dos Santos
 de 97 anos - uma das últimas pessoas ainda vivas que tiveram contato 
como Lampião, quando da sua passagem pela região, mais precisamente pelo
 riacho das Antas e no acampamento do bando na serra do Diamante no 
município de Aurora no ano de 1927.
Seu Elias Saraiva hoje residente na cidade de Milagres (CE) nasceu e 
cresceu no sítio Diamante de Aurora e, juntamente com seu pai esteve por
 várias vezes na presença de Lampião e todo o seu bando, quando este por
 mais de uma semana ficou arranchado no sopé da famosa serra. E de lá 
derivou para o serrote do Cantins e fazenda Ipueiras quando do primeiro 
encontro com Izaías Arruda, Zé Cardoso, Massilon Leite com vistas a 
planejar a invasão e saque da cidade de Mossoró- RN.
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Pesquisadores, Sousa Neto (Barro). Sr. Elias Saraiva dos Santos   
e o anfitrião José Cícero (Aurora) | 
Na época com a idade de 10, disse ele que chegou a levar comida da sua 
casa para o rei do cangaço no esconderijo do Diamante. Algumas vezes na 
companhia do seu pai, outras, sozinho. Lembra inclusive, do dia que 
levou algumas pamonhas feitas por sua mãe - uma oferta segundo ele para o
 bandoleiro. Ao receber a encomenda, recordar ainda hoje que Lampião 
sorridente pôs a mão sobre sua cabeça e disse algo o elogiando pela sua 
esperteza de menino. Decerto, num claro gesto de agradecimento pelo seu 
trabalho e tantas idas e vindas pelas veredas da caatinga, entre a sua 
casa e o local onde Virgulino ficara acoitado com seus comandados. 
Lembra igualmente que ele (Lampião) metera a mão no bornal que levava a 
tira colo e, em seguida colocou na sua mão umas moedas dizendo que era 
para pagar o presente da sua genitora. De maneira que até hoje ainda tem
 Lampião como uma pessoa simpática e respeitadora.
Era corrido o ano de 1927, época que historicamente ficou marcada por 
uma série de acontecimentos relacionados a invasão de Mossoró, seguido 
do episódio relativo a suposta tentativa de envenenamento do bando 
Lampiônico, que redundou no cerco, tiroteio e incêndio da fazenda 
Ipueiras de Aurora. A famosa traição do coronel Izaías ao seu amigo 
Lampião. Trama ao que tudo indica, arquiteta pelo coronel Arruda e Zé 
Cardoso, tendo como pano de fundo o major Moisés Leite de Figueiredo – 
comandante das volantes que desde o malogro de Mossosó e, dentro do 
Ceará, ficará no encalço do bandoleiro.
O plano "A" seria, primeiro a suposta infiltração de alguns elementos 
(jagunços do coronel) e soldados disfarçados no bando de Lampião. 
Desconfiado, Lampião junto com os seus não concordaram com a ideia. Veio
 então, depois o plano "B" o oferecimento da comida envenenada que ficou
 a cargo de Miguel Saraiva, tido em alguns escritos lampiônicos como 
vaqueiro de Zé Cardoso. Na verdade ele era um dos proprietários da 
região do Diamante e, por conseguinte, amigos do coronel Izaías Arruda e
 de Zé Cardoso da Ipueiras e Cantins. Depois Coxá. Tipi, Monte Alegre, 
Izaíras e Taveira... Mas não era vaqueiro de profissão.
Há quem diga inclusive, que conhecera Lampião e privou da sua 
consideração e confiança primeiro que os donos da Ipueiras. Sendo, 
portanto, apontado como o homem que primeiro em Aurora fez a ponte que 
levara o rei do cangaço sob os interesse de Massilon Leite ao célebre 
coronel, nascendo daí por uma série de outros interesses dos potentados 
da época, a terrível trama com vistas a invadir a cidade 
norte-rio-grandense.
Conhecera Massilon um pouco antes, em face da amizade daquele com os 
cangaceiros da terra, moradores do riacho das Antas, Coxá lá pelas 
imediações do Diamante. Sendo Massilon Leite, como se sabe, um dos 
principais artífices da empreitada com vistas a invasão de Mossoró.
Antes mesmo de Lampião beirar as terras da Ipueiras, alguns cangaceiros 
do riacho das Antes dentre os quais Zé de Lúcio, José Cocô, Zé de Roque e
 Antonio Soares já haviam incursionado nos bandos de Massilon, Décio 
Holanda do Pereiro e do Próprio Izaías Arruda, na época sob o comando do
 seu vaqueiro e conhecido homem de confiança de Missão Velho.
Seu Elias Saraiva – era filho de Zeca dos Santos - e este primo carnal de Miguel Saraiva.
A fazenda Ipueiras – foi palco de um dos episódios mais emblemáticos e 
notórios da história de Lampião, quando da sua incursão pelo Cariri 
cearense. O que culminou com a polêmica traição do coronel Izaías Arruda
 a Lampião. Fato ocorrido no começo da tarde do dia 7 de julho de 1927. 
Estando, portanto, por uma série de fatores, intimamente ligada ao 
acontecimento de Mossoró.
Certa feita, disse Seu Elias que estando Lampião com parte do seu bando 
na região de Cuncas no município do Barro onde participariam de um 
grande almoço oferecido por um rico fazendeiro do lugar, chega a 
notícias que o cangaceiro “Bom de veras” que vinha ao encontro de 
Lampião, acabara de assassinar um cidadão de bem nas proximidades da 
vila de Rosário. Simplesmente porque o tal cidadão, resistira em 
entregar seu cavalo ao cangaceiro.
A pessoa assassinada era também compadre do dono da fazenda. Ao saber da
 notícia Lampião ficou indignado. E mesmo com fome ordenou para que todo
 o bando se preparasse para partir. Ninguém comeria mais nada para que 
todos pagassem pela desfeita de “Bom de veras”.
- Não quero nem cabra covarde e nem malvado no meu bando, -
Dissera o bandoleiro e logo, em seguida partiu contrariado, deixando as terras do Barro para trás. 
Foi um conversa das mais proveitosas com o decano do Milagres o Sr. 
Elias Saraiva. Sobretudo para aqueles que sempre estão dispostos a 
aprender um pouco mais acerca da nossa verdadeira história.
Além de prestar uma palpitante entrevista o Sr. Elias ainda colaborou 
com informações preciosíssimas que, inclusive, serão utilizadas no livro
 “Lampião em Aurora – Antes e depois de Mossoró” que está sendo finalizado pelo professor e pesquisador José Cícero.
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do Blog da AuroraJ. Cícero
 
 
 











